segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Amor e escolhas

Quando escolhemos alguém para a nossa vida, não é a escolha que fazemos que realmente importa e sim as renúncias que envolvem essa escolha.

A pessoa virtuosa é aquela que mesmo desejando muito algo que lhe traga prazer ou outro benefício, ainda assim, é capaz de abrir mão desse desejo em função de não o achar correto ou não o achar importante o suficiente em relação a outros valores, pessoas ou relações que seriam afetados caso o desejo se realizasse. Não há virtude sem sacrifício, assim como não amor sem renúncia. Por isso o tamanho do nosso amor se mede, não com a quantidade de beijos ou de presentes que somos capazes de oferecer ao outro e sim com o que somos capazes de abrir mão em nome desse amor.

Costumo dizer que “nada que é fácil vale à pena” e que “as coisas tem o valor dos sacrifícios que empreendemos para conquistá-las”, se não estamos dispostos sequer a tolerar as fragilidades do outro em nome de uma relação é porque o que sentimos não tem muito valor e acredito que coisas sem valor não devem ser guardadas pois elas ocupam o lugar das coisas que realmente importam na nossa vida.

Pense nisso: às vezes uma pessoa está pronta para sacrificar o que tem de mais valioso em nome daquilo que sente por você, por isso é natural que ela tenha tantas dúvidas quanto ao que você sente, até porque não temos o hábito de sermos sinceros e verdadeiros com os outros desde o início.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A receita da felicidade

Há coisas sem as quais não sobrevivemos nem sequer por algum tempo: como o ar, a água e a alimentação, outras nos matam aos poucos: como a falta de afeto e reconhecimento, mas também é verdade que somos atingidos e nos debilitamos pela ausência de coisas cuja impressão de sua necessidade não resistiria a alguns instantes de ponderação, estranhamente é a falta do desnecessário que causa a maioria de nossas angústias, nos impondo um sentimento quase perene de vazio e descontentamento.

Vivemos a era das ilusões, atrelamos o nosso sentimento de realização ao alcance de metas que quase nunca tem a ver com o que realmente é significativo para a nossa existência. É comum esquecermos de olhar para nós mesmos, seduzidos pelo mundo ao nosso redor, passamos então a nos conhecer cada vez menos, o que nos leva a ser incapazes de ter consciência permanente das coisas que realmente fazem diferença em nossa vida.

O filósofo Epicurio na Grécia antiga constata que para alcançarmos a realização e a felicidade é preciso que sejamos independentes, que busquemos estar entre as pessoas que nos amam e as quais amamos, que façamos constantemente análises de nossa vida e que nos alimentemos bem, eu acrescentaria às constatações epicuristas a necessidade de exercícios físicos regulares.

Nosso ritmo de vida marcado pela complexidade das relações efetivadas nos cenários do nosso cotidiano nos afasta da natureza simples da felicidade, que quase sempre já está contida nas coisas que possuímos, metas que conquistamos e depende muito mais da descoberta da importância do que já temos do que da aquisição de outras coisas ou do atingimento de novas metas.

Dedicamos grande parte de nosso tempo à busca de objetivos que pouco ou nada contribuem para que sejamos verdadeiramente felizes, muitos inclusive nem acreditam na felicidade e com isso perseguem os momentos de satisfação passageiros proporcionados pela aquisição de algo ou por elogios vazios e desmerecidos.

Só possuímos verdadeiramente as coisas que amamos, o resto se insere fora de nossos territórios, mesmo quando fazem parte de nossas aquisições não participarão do nosso mundo interior o qual em uma análise mais profunda fornece as razões determinantes da forma como reagiremos ao mundo que nos cerca.

É preciso conhecer o que se passa dentro de nós, costumo repetir uma afirmação, penso que tirada de um velho ditado indígena que nos sugere que o homem é uma casa de muitos cômodos e que quando deixamos de visitar um deles, esse se torna esquecido e empoeirado e a porta que leva até lá vai ficando emperrada e difícil de abrir.

Devemos dedicar um tempo maior às atividades que nos aproximem das pessoas, procurar entendê-las é a chave para entendermos a nós mesmos, o que amplia as nossas possibilidades de acolher e sermos acolhidos. A intolerância e o desrespeito não ferem somente aos que são vítimas diretas das atitudes que as geram, pois quando colocadas em prática negam as semelhanças que nos aproximam, acentuando as diferenças que têm como conseqüência final a exclusão dos sujeitos, exclusão essa que não possui uma única direção, pois ao excluirmos uma pessoa do nosso convívio também nos excluímos do convívio dela o que nos leva ao isolamento e a infelicidade decorrente dele.

É crescente o número de pessoas que decidem viver só, evitando relacionamentos duradouros em nome da manutenção de uma pseodoindependência que não os liberta, ao contrário, os acorrenta à uma ditadura que impõe um modo de vida que privilegia condutas contrárias a natureza humana de socialização e necessidade de pertencer ao universo do outro.

Enfim nos distanciamos da felicidade não pela distância existente entre ela e nós mas, por desconhecer os caminhos que nos aproximam dela.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Coisas que duram demais, ou coisas duras demais
Há pessoas extremamente cuidadosas com as coisas que possuem e por isso elas duram quase uma eternidade, no meu caso é diferente, não tenho muito cuidado com quase nada, no entanto há coisas na minha vida que insistem em durar indefinidamente, é o caso dessa jaqueta de couro que comprei há quase vinte anos, já me cansei de usá-la e ela insiste em não se estragar.
Quando a situação é com coisas como uma jaqueta, tudo fica mais fácil, pois posso decidir não usá-la mais e tudo está resolvido, o problema é quanto se trata de sentimentos, pois é, também enfrento esse problema da durabilidade acima da média com alguns sentimentos.
Já tive raiva de algumas pessoas, tive não, ainda tenho, a exemplo do cara que derrubou a minha caixa de picolés quando eu tinha sete anos, ainda hoje desejo que ele tivesse morrido atropelado quando atravessou a rua correndo e levando o dinheiro dos picolés que eu tinha vendido durante toda manhã, isso após ter derrubado os picolés que tinham sobrado e quebrado a caixa onde eles estavam, se não fosse o meu avô ter me dado o dinheiro para pagar o dono da sorveteria, acho que estaria chorando até agora.
Mas a raiva é um sentimento menor, e se a gente não ficar soprando as brasas que a mantêm acesa dentro de nós, dá até para esquecer por longos períodos que ela continua morando na gente. O problema é quando o sentimento é maior que nós mesmos e parece que ele não está dentro de nós, e sim nós dentro dele, isso é tão evidente que a gente para escapar dele viaja, foge de estar nos lugares onde esse sentimento pode estar escondido, espreitando para nos emboscar e mais vez nos aprisionar, só que não dá para fugir a vida inteira e fica sempre o medo de voltar.
Não há receita para lidar com isso, penso que isso nos põe a prova e mostra do que somos feitos, já vivi situações assim, mas aprendi que passar por isso uma vez não te prepara para enfrentar a próxima vez que isso vai lhe acontecer, poderia dizer que o pior a fazer é fugir, mas confesso que em muitas ocasiões não consegui encontrar alternativa, ou fugia ou enlouquecia ou, ainda, fazia a escolha errada.
As escolhas são outra coisa extremamente complicada, algumas delas te acompanham a vida inteira, e se foram erradas esse erro te atormentará até o dia da sua morte, que muitas vezes é antecipada tão grande é a culpa que você carrega.
Não quero errar nas escolhas, não quero morrer antes da hora, minha razão grita isso repetidas vezes, mas parece que o meu coração é surdo e não sabe linguagens de sinais, porque além de falar, minha razão ainda gesticula: ando de um lado para o outro, passo longos instantes de cabeça baixa, faço o carro ir mais rápido, as pessoas parecem me olhar diferente, mas nada disso faz esse idiota, que não sabe outra coisa senão bater sem parar, se tocar, e o pior é que tem momentos em que ele bate tão doído que parece que vai explodir.
Se eu pudesse, esse infame órgão ia cantar em outra freguesia, mas como já disse não quero morrer antes da hora.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O papel do brinquedo na formação dos mecanismos de defesa psicológica da criança

A menina e a bonequinha feia

Era uma vez uma menina comum, e como todas as meninas comuns era também uma princesa. Morava em um castelo construído dentro de seus sonhos.

Na verdade a menina desta história morava em uma favela próxima a um lixão, seus pais viviam do que encontravam no lixo, mas a despeito de tudo eram amorosos e dedicados com os filhos.

Certo dia, no aniversário de três anos da menina, a mãe chegou em casa com um embrulho bonito, coberto com papel de presente que ela havia encontrado numa lixeira no centro da cidade, a menina ficou eufórica pois sabia que dentro do embrulho estaria o primeiro presente de aniversário da sua vida, mal podia se conter, mas teve o cuidado suficiente para não estragar o papel, que para ela era tão bonito que já valeria a pena ganhar só ele.

Dentro do pacote algo com que a menina sempre sonhara, uma boneca, linda como que se saída de um conto de fadas.

_Mamãe eu posso chamar ela de Balu? Perguntou a menina.

_Claro meu amor. A boneca é sua, pode dar a ela o nome que quiser.

_Eu posso ir mostrar a Balu às minhas primas?

_Claro meu amor, só não vai aborrecer o seu tio, acho que ele tomou umas hoje e não está lá muito bem.

_Tá bom mamãe.

E lá foi a menina com a sua Balu; não teve de andar muito, pois a primas moravam no barraco ao lado, antes de entrar a menina escutou o tio esbravejando e gritando palavrões que uma criança não deveria escutar, mas que para ela já eram comuns, tão comuns que nem ligou , foi entrando como se nada estivesse acontecendo, ainda da porta chamou as primas que vieram correndo ver o presente da menina.

_Olha a minha Balu como é linda, foi a minha mão que me deu. Disse a menina com um sorriso de um canto a outro do rosto.

_Nossa! Que boneca feia! Disse a prima mais velha com uma cara de nojo.

_Eu gostei. Disse a menorzinha que tinha a mesma idade da menina.

A menina, então encarou a prima mais velha e com um jeito de brava gritou:

_Ela não é feia não, e se você a fizer chorar você vai ver só.

Olhou, então para Balu e com a mão no rosto dela disse, com uma voz bem carinhosa:

_Baluzinha, não chore você não é feia não, eu te acho linda e serei a sua melhor amiga nesse mundo.

Não foram poucas as vezes que a menina teve de consolar a boneca, para onde ia, levava à amiga e sempre havia alguém para dizer o quanto Balu era feia, mas, a cada dia que passava a menina gostava mais da sua Baluzinha.

A menina foi crescendo e chegou o dia de ir para a escola, acordou sedo e foi logo se vestindo, apanhou os cadernos, colocou Balu numa sacola e já ia saindo quando a mãe lhe pediu que deixasse a boneca em casa, pois a escola não era lugar de brinquedo.

A menina tentou ainda argumentar com a mãe, mas acabou aceitando e deixando a amiga em casa.

Mal chegou a escola e os colegas começaram a implicar com ela, era menor que os demais e a farda que herdara da irmã mais velha estava manchada e com aparência de velha.

Logo se tornou alvo dos apelidos e da mangação dos colegas que a chamavam de feia e favelada, ela então se lembrou do que dizia sempre para Balu e quando alguém mexia com ela, essas lembranças a confortavam, ajudando ela a superar a hostilidade de todos os dias. (....)

sábado, 30 de julho de 2011

Pessoal o Link para a história que li na aula de sexta-feira: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2008/01/07/a-menina-e-o-passaro-encantado-ruben-alves/

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Eu e o Outro
Um dos primeiros desafios que me impus na adolescência foi o de entender a mim mesmo e as pessoas com quem convivia.
Lembro-me de me considerar cheio de defeitos, o que me levava a um sonho recorrente: ter a oportunidade de começar tudo novamente num lugar onde ninguém me conhecesse.
Não gostava da forma como agia, mas estranhamente continuava a fazer as mesmas coisas que me tornavam aquela pessoa a quem eu queria ver renascer como alguém totalmente diferente.
É verdade que ao longo dos anos recomecei algumas vezes, mudei muito e tornei-me muito diferente do que era, no entanto ainda continuo muito longe de conseguir me entender e entender os outros.
Ando desconfiado de que o problema está na perspectiva pela qual tentamos nos conhecer. O fato de nossos olhos estarem voltados para fora e ser a visão o sentido no qual mais confiamos talvez possa explicar porque sempre nos analisamos com base no que está ocorrendo em nosso entorno, quase sempre, estabelecemos uma relação de causa e efeito entre o que ocorre próximo de nós e o que estamos sentindo.
Somos decisivamente afetados pela realidade que nos cerca e de forma mais contundente pelas pessoas que nos cercam, se pudermos tomar essa afirmação como verdadeira, também poderemos considerar verdadeiro que nós afetamos a todos que estão à nossa volta, ou de alguma forma interagindo conosco, e quanto mais próximos estamos de alguém maior é o efeito que causamos.
Quase nunca nos preocupamos com isso a ponto de orientarmos a nossa conduta de forma a minimizar ou evitar os desconfortos inerentes ao convívio entre as pessoas.
Quantos sofrimentos nós causamos aos outros sem sequer perceber que os tenhamos causado, é comum também nos impormos sofrimentos desnecessários, advindos de percepções equivocadas e da insistência em alimentar sentimentos cuja origem desconhecemos e cujo destino só nos conduz a mais sofrimento.
Mas nem tudo é esse mar de angústia, a interação com outras pessoas também pode nos dar prazer e alegria, o problema é que não nos contentamos em viver e aproveitar descansadamente as experiências que a vida nos proporciona, quase sempre dedicamos uma boa parcela do nosso tempo à tentativa de entender o que se passa nos meandros dessas vivências, principalmente no que se refere aos motivos que embalam o outro.
As relações interpessoais desencadeiam uma dinâmica na qual todos procuram, de uma forma, ou de outra usar as pessoas com quem convivem, e como ninguém gosta de sentir-se usado, se estabelece um conflito, no interior de cada um, que raramente explicitamos. Vivemos as nossas angústias em silêncio, o que as tornam mais difíceis de serem suportadas.
Alguém poderia dizer que a solução é simples, basta que se estabeleça o diálogo como ferramenta para minimizar essas angústias, no entanto, efetivar o diálogo não é algo tão simples, a maioria de nós não escuta o que outro diz, na verdade ficamos em silêncio, não para ouvir o outro, mas para aguardar a nossa vez de falar, falamos como se fossemos a única voz que valesse à pena ser ouvida, com isso cultivamos um profundo desconhecimento sobre o outro e suas razões.
Algumas tentativas de entender as pessoas me levaram por vezes a considerações, no mínimo interessantes, uma delas é sobre como usamos a expressão “nossas razões” para nos referirmos aos motivos que nos levam a determinadas atitudes. Não conheço ninguém que se paute exclusivamente pela razão, pelo contrário, o que nos põe em movimento são as emoções ou sentimentos, quase sempre os negativos como o desejo de vingança, o ciúme, a inveja, a intolerância, a desconfiança, o preconceito e o ódio, entre outros. Não quero afirmar que não sintamos coisas boas em relação às outras pessoas, no entanto é mais raro que esses bons sentimentos nos motivem a agir para concretizar, ou até mesmo fazer com que a outra pessoa saiba o que sentimos.
Não falar sobre o que sentimos é por vezes um mecanismo de defesa, o temor de que usem os nossos sentimentos contra nós é algo real e justificado. Eu me lembro de uma amiga que me contou que fazia gato e sapato de um rapaz que confessou estar apaixonado por ela, sempre deixava escapar o que queria ganhar de presente e o rapaz nem esperava uma data especial para lhe comprar o mimo, ele também digitava todos os seus trabalhos de faculdade e ficava todo entusiasmado quando podia fazer algo por sua paixão. Não preciso dizer o quanto esse jovem sofreu.
Penso que o que disse aqui não é novidade para ninguém, fica, no entanto, uma pergunta a ser respondida: como lidar com isso tudo de forma que não soframos e nem façamos os outros sofrerem demasiadamente? Apesar de acreditar que a resposta a esta questão deva ser construída de forma singular e individual posso dizer que tenho conseguido algum progresso empregando uma parcela razoável do meu tempo a análise de mim mesmo, tentando entender como tenho sido afetado pelas pessoas e como eu mesmo tenho afetado elas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Pessoas que aprendem e pessoas que dependem
Todos nós, homens e mulheres, nascemos com uma inclinação natural para adquirir conhecimento. Passamos a conhecer o mundo através dos nossos sentidos. A interação que se estabelece entre sujeito e mundo desencadeia uma dinâmica que nos modifica cognitiva, corporal e afetivamente, além de mudar a forma como percebemos e nos movemos no espaço.
É preciso ressaltar, no entanto, que essa inclinação natural à aquisição de conhecimento não é suficiente para produzir a apreensão e compreensão do mundo, bem como, sozinha não promove a evolução necessária para que sejamos capazes de nos inserirmos de forma sustentável no universo que nos cerca.
A sustentabilidade tratada aqui se refere à gestão eficiente e eficaz dos seus recursos cognitivos, afetivos e psicomotores de forma que esses sejam sempre suficientes e adequados para nos habilitar a lidar com as demandas, oportunidades e percalços que a vida impõe a todos nós.
Muitos acreditam que os recursos que se encontram no nosso entorno são suficientes e até mesmo mais importantes do que o que nos é intrínseco como o equilíbrio emocional, o bem estar físico e a capacidade de interpretação deste mundo grafocêntrico onde uma rede tecida com alguns fios de saber, raros nós de entendimento e infindáveis vazios de dúvida seria a metáfora mais adequada para explica-lo.
Tecer a rede é a providência mais efetiva que podemos empreender para assegurarmos a sustentabilidade do nosso ser.
Na tessitura dessa rede a trama só será garantida se os fios entrelaçarem-se, vindo de pontos diferentes. Cada uma das dimensões que nos constitui deve ser pensada e trabalhada para que a malha que nos sustenta nesse mundo seja firme confiável.
O tear deve estar em constante movimento, os fios da cognição devem se entrelaçar com os fios da afetividade e estes se unirão por liames aos fios da psicomotricidade, dessa forma cada um dos fios dará sustentação ao outro garantindo-nos condições de interagirmos com a vida sem fraquejarmos diante dela.
Por o tear em movimento não é algo unicamente natural, talvez as primeiras compreensões do mundo o sejam, mas as aprendizagens mais importantes da nossa vida, após desenvolvermos certa autonomia diante dos desafios que nos são impostos, são sempre fruto de muito esforço, renúncia e dedicação.
Todavia é preciso estar atento, pois não são raras as situações nas quais somos tentados pelas facilidades que a vida coloca diante de nós. É muito mais fácil deixar que façam por nós, do que fazermos nós mesmos, esquecemos, porém que por tudo que nos é oferecido pagamos um preço.
Não deixe que façam por você aquilo que pode e deve fazer por si mesmo, pois o mais importante não é o resultado das ações, mas sim o ato, em si, de efetivá-las. Se isso não fosse verdade personalidades como Amy Winehouse, Michael Jackson e outros não teriam sucumbido à vida partindo de forma prematura, vitimadas pelas próprias fragilidades.
Também não faça pelas pessoas a quem você ama o que elas podem e devem fazer por si mesmas, pois além de se ocupar desnecessariamente, nega-lhes a oportunidade de crescer com os esforços que empreenderiam, nega-lhes também a realização e a autoconfiança que só são alcançadas quando passam a crer que são capazes de resolver por si sós os problemas que a vida põe diante de todos nós ao longo da nossa existência.
Construirmos a nós mesmos considerando cada uma das conexões que precisamos estabelecer parece algo impossível; provavelmente seria se estivéssemos sós, no entanto estamos cercados de pessoas dispostas a ajudar nesse processo, pois além de nos autoconstruirmos nós também nos construímos mutuamente através das interações que estabelecemos uns com os outros.
É preciso, no entanto prudência na efetivação da nossa relação com o outro, pois é muito forte o apelo pelo mais fácil e agradável, elogios, por exemplo, podem ser fundamentais para a manutenção da autoestima, mas devem sempre ser portadores de objetivos pedagógicos e ter como base a verdade e o merecimento de quem os recebe, caso contrário, corre-se o risco de mascararem a realidade fazendo com que o indivíduo que os recebe acredite que não há mais em que melhorar, com isso, incentiva-se a estagnação que nos acorrenta a incompletude do desenvolvimento necessário para que sejamos capazes de exercer com competência nosso papel na sociedade da qual fazemos parte.
Adotar a avaliação como forma de identificar o que precisa ser melhorado, não como uma agressão quando a nota é baixa ou como uma vitória definitiva quando a nota é elevada, para isso precisamos que o processo avaliativo deve produza resultados que se aproximem ao máximo da realidade, visto que devem refletir a totalidade do indivíduo e não só uma porção específica que entendemos ser mais valiosa, pois ao contrário do que muitos possam pensar, apropriar-se de todo o conhecimento de uma área específica não é condição suficiente para que nos tornemos eficazes nas ações que empreendemos, já que em cada pequena ação estão envolvidos diversos aspectos que se tangenciam, permeiam e subsidiam o que fazemos como um todo.
Quando a avaliação mostra que somos muito bons em uma determinada área, ela nos coloca diante da possibilidade de assumirmos esse resultado pontual como sendo geral, o que pode ocultar fragilidades que se fossem detectadas poderiam ser trabalhadas para contribuir para o nosso desenvolvimento pleno.
É preciso repudiar os artifícios pelos quais nos isentamos das tarefas que deveríamos cumprir. Por de trás das ofertas generosas de coisas prontas que, caso tivemos que fazer nós mesmos, custariam horas de trabalho, pode estar o desejo de ver-nos estagnar, inertes diante da vida e desta forma ver também a fragilização de um possível concorrente.
Tudo que deixamos de aprender, nos torna mais dependentes e a dependência é um tipo de deficiência imposta por nós mesmos.
Há um tempo propício para tudo em nossa existência, quando perdemos esse tempo corremos o risco de não mais termos a chance de recuperá-lo, aliás o tempo é um bem não reciclável, quando se extingue não há o que fazer senão lamentar. É preciso aproveitar cada momento propício à aprendizagem, devemos lembrar o quanto nos custa cada hora que reservamos aos momentos que deveriam nos proporcionar essa aprendizagem.
Estar em uma sala de aula como alunos, implica em abdicar de tudo o que poderíamos estar fazendo se não estivéssemos ali, é de se estranhar então que alguém possa valorizar tão pouco esse espaço/tempo preenchendo-o com atividades insípidas ou com o desânimo frente aos objetivos propostos, seria mais nobre contestar todos estes objetivos e buscar revolucionar o ambiente de ensino aprendizagem, no entanto, é inaceitável a inércia que alguns manifestam diante de tudo.
Podemos assistir a vida passar diante de nós como estátuas, imóveis e imutáveis à espera de alguém que resolva os nossos problemas, ou podemos encarar a vida como uma seqüência de desafios a serem vencidos, e podem estar certos de que não há nada que nos faça tão bem quanto superar desafios.
Com certeza não seremos os mesmos amanhã, mas se seremos melhores ou não, só depende de nós, ninguém aprende no lugar de outrem, toda aprendizagem é uma autoaprendizagem, por isso cabe, a cada um escolher o que quer para si: aprender ou depender.
Tudo que deixamos que façam por nós nos torna um pouco dependente de quem o faz, se deixarmos que façam tudo por nós nos tornaremos totalmente dependentes dos outros.
O futuro não é uma acaso, nem o destino está traçado, tudo o que nos acontece é em grande parte resultado do fizemos ou do que deixamos de fazer, nada de importante pode ser conquistado sem esforço, aliás, as coisas que possuímos têm o valor do esforço que dedicamos para obtê-las e as mais valiosas com certeza nos custaram muito, mesmo que as outras pessoas não as valorizem, sabemos que nos são caras, esse valor não tem relação com o valor financeiro, é mais parecido com a euforia que sentimos ao sermos aprovados em uma seleção concorrida ou quando conquistamos o nosso 1o emprego.
É comum nos queixarmos de nossa própria sorte enquanto ressaltamos a sorte das pessoas bem sucedidas que nos cercam, ignoramos, no entanto, que a sorte nada mais é que o encontro do indivíduo preparado com a oportunidade, de nada adiantará as oportunidades que recebermos se não estivermos preparados para aproveitá-las.
Prof. Rogério Reis

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cola, onde está o problema:

A cola não é um problema, na verdade ela é um sintoma de uma doença muito mais complexa, chamada embrutecimento.

O embrutecimento como a maioria das doenças graves não é um fenômeno instantâneo, requer anos de maus hábitos cultivados pelas escolas através de uma pedagogia centrada no professor.

É sabido que a capacidade de aprender é, para os seres humanos, uma condição necessária à sobrevivência, toda homem e mulher nascem com um desejo incontrolável de aprender todas as coisas que existem isso, porque necessitamos conhecer o mundo para poder gostar de viver nele, não é mais apenas uma questão de sobrevivência e sim de ter prazer enquanto vivemos.

Aprender é um fenômeno complexo de difícil compreensão, é tão complexo que existem formas diferentes para explicá-lo, no entanto a maioria das atuais teorias a respeito da aprendizagem concorda que a memória desempenha um papel fundamental no processo do desenvolvimento das competências. Conheço pessoas cuja memória é prodigiosa, são capazes de lembrar com fidelidade literal páginas inteiras de texto e fatos ocorridos há muito tempo, confesso que também tenho uma boa memória, lembro-me, por exemplo, de quando ingressei no ensino fundamental, a escola me parecia um lugar mágico. Disseram-me que lá eu iria aprender mais sobre o mundo do que em qualquer outro lugar.

Acho que foi uma das maiores decepções da minha vida, descobri que o mundo que a escola queria me ensinar não era o mesmo mundo que eu queria conhecer, até hoje não consigo entender para que servem um monte de coisas que passaram um tempão tentando me ensinar.

Todo o entusiasmo em relação à escola deu lugar a apatia e a descrença de que o que aprendia lá pudesse me servir de alguma forma para lidar melhor com o mundo a minha volta logo descobriu que os professores me pediam para fazer atividades que eles já traziam prontas de casa e que mais cedo ou mais tarde mostrariam como resolvê-las, e que se eu aguardasse até o professor mostrar a resposta no quadro eu poderia me poupar do esforço, é certo que alguns professores conferiam se eu tinha tentado responder, mas era só fingir e responder de forma superficial que eles se davam por satisfeitos, mesmo porque sempre partiam do pressuposto que os alunos não sabiam nada, quem sabia eram eles e que os alunos deveriam aprender com eles, era para isso que as escolas serviam.

Mas nem tudo era ruim na escola, não consigo esquecer uma professora da quinta série, Theresinha, a grafia do nome era exatamente assim, pelo menos é como me lembro, era professora de português e no início do ano letivo pediu que lêssemos o livro “A Ilha do Tesouro” da coleção Vaga Lume, de início nem passava pela minha cabeça ler o tal livro, mas então Theresinha começou a iniciar suas aulas com a leitura de um texto, e a forma como ela lia parecia que estava contando, do seu jeito, uma fábula que ouvira de alguém, nós nos víamos dentro da história, nos sentíamos como personagens e depois da aula continuávamos a imaginar que fazíamos parte daquele mundo. Foi assim que eu comecei a gostar de ler.

Quanto á cola eu preciso dizer que tentar impedi-la é como dar antitérmico para baixar a febre de uma criança com uma infecção grave e ficar só nisso. É possível que a febre ceda, mas o remédio não terá nenhum efeito em relação à infecção que é o verdadeiro problema.

Enquanto o que se ensina não tiver significado para os alunos e não possibilitar que eles exercitem a capacidade de pensar e de aprender de forma significativa eles sempre estarão buscando meios para fraudar o processo, pois não conseguem enxergar outro objetivo na avaliação que não seja obter uma boa nota, quando deveriam vê-la como um instrumento emancipatório.

Para emancipar um ignorante, é preciso e suficiente que sejamos, nós mesmos, emancipados; isso é, conscientes do verdadeiro poder do espírito humano. (Rancière, p. 34)

Quem ensina sem emancipar, embrutece. E quem emancipa não tem que se preocupar com aquilo que o emancipado deve aprender. Ele aprenderá aquilo que o emancipado deve aprender. Ele aprenderá o que quiser, nada, talvez. (Idem, p. 37 )

Há mais de oito anos eu defendo a avaliação com consulta a todas as fontes disponíveis, acredito que o que deve ser incentivado é a capacidade de resolver problemas, atender demandas e de ser criativo. Na vida fora da escola, pesquisamos na Internet, consultamos especialistas, buscamos nos livros, não vejo porque a escola não possa incorporar os paradigmas da vida contemporânea ao seu dia-a-dia.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Rogerio Reis














OS ADULTOS ENSINAM E AS CRIANÇAS APRENDEM









Caso


Duda tem 9 anos e estuda numa turma de quarto ano do ensino fundamental de uma escola municipal de sua cidade.


Depois de mais uma manhã na escola, Duda chega a sua casa com a mãe, que desce apressada do carro para começar a fazer o almoço, é comum ela observar a mãe fazendo o almoço e algumas vezes até ajuda no preparo da comida, muito curiosa ela sempre enche a mãe de perguntas sobre os mais variados temas, nesse dia, entusiasmada com as histórias de Tia Anastácia do Sitio do Picapau Amarelo, ela quis saber sobre o preparo do arroz, estava intrigada com o fato de os grãos pequenos e duros se transformarem, ganhado tamanho e ficando tão macios. A mãe explicou que a água quente cozinhava e hidratava os grãos, ou seja, os grãos de arroz, enquanto estavam sendo cozidos, absorviam parte da água e por isso inchavam e ficavam maiores, ao mesmo tempo o calor do fogo fazia com que o arroz amolecesse.


Duda: Mas mãe, toda aquela água que a Sra. coloca na panela vai parar dentro dos grãos de arroz?


Mãe: Não minha filha, uma parte da água evapora, vira essa fumacinha que sai da panela.


Para provar o que estava dizendo, a mãe de Duda destampa a panela e mostra as gostas d’água que se formaram em baixo da tampa.


Mãe: Olhe Duda a fumaça que encosta na tampa que está mais fria que a panela volta a ser água, mas toda aquela fumaça que sai da panela é a água em forma de vapor que fica no ar e vai subindo, subindo até formar as nuvens, depois essa água volta em forma de chuva.


Duda: Quer dizer que as nuvens são formadas pela fumaça que sai das panelas?


Mãe: As nuvens são formadas por toda água que evapora, você já notou que no verão as lagoas ficam quase sem água e algumas chegam até a secar? Pois é, a água das lagoas também evapora e ajudam a formar as nuvens, além das lagoas também tem o mar e os rios.


Neste momento o pai de Duda chega em casa, todos então, se sentam para almoçar e a mãe de Duda pede a ela que pegue o refrigerante no congelador, ela abre a geladeira e vê que a garrafa está congelada e vazado, pergunta então ao pai porque o refrigerante vaza quando congela.


O pai, pega um cubo de gelo e uma lupa e entrega à filha, e pede a ela que olhe o cubo através da lupa.


Pai: O que você está vendo Duda?


Duda: Parece que o cubo está cheio de riscos, como se tivessem colado um monte de pedaços de gelo para fazer esse cubo maior.


Pai: Isso é porque a água quando congela formam-se cristais que deixam entre eles espaços vazios, os riscos que você viu. Esses espaços entre um cristal e outro acabam aumentando a área necessária para comportar a água que tem no refrigerante, como o vazo de refrigerante não é capaz de esticar indefinidamente acaba estourando e o líquido vaza.


Duda ficou satisfeita com as explicações e terminou de almoçar.


No outro dia na sala de aula a professora perguntou aos alunos quem havia decorado os estados físicos da água, Duda logo levantou a mão e começou a contar a conversa com os seus pais no dia anterior, porém, assim que ela contou que a mãe havia colocado o arroz na panela a professora interrompeu e disse que ela estava enrolando e que pelo jeito não havia estudado como foi orientado.


Um coleguinha da turma de Duda eufórico gritou lá de traz da sala, “líquido, sólido e gasoso”. “Muito Bem”, disse a professora, agora vamos pegar o livro de ciências e estudar um pouco mais, vamos ver os processos de fusão, evaporação, solidificação e liquefação.


Professora: Prestem atenção agora. Para que aconteçam a fusão e a vaporização é necessário fornecer energia – aquecer – a água. Para que aconteçam a solidificação (mudança de estado liquido para o estado sólido) e a liquefação (do estado gasoso para o liquido) é preciso retirar energia – o calor – da água... Todo mundo entendeu? Caso alguém ainda tenha dúvida é só perguntar que eu explico novamente.


Aluno: professora eu não entendi.


Professora: o que você não entendeu?


Aluno: tudo.


Professora: Pois é, quando eu pedi que vocês fizessem a leitura prévia do livro o senhor estava de bate papo com o colega. Alguém que fez a leitura tem alguma dúvida?