sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Coisas que duram demais, ou coisas duras demais
Há pessoas extremamente cuidadosas com as coisas que possuem e por isso elas duram quase uma eternidade, no meu caso é diferente, não tenho muito cuidado com quase nada, no entanto há coisas na minha vida que insistem em durar indefinidamente, é o caso dessa jaqueta de couro que comprei há quase vinte anos, já me cansei de usá-la e ela insiste em não se estragar.
Quando a situação é com coisas como uma jaqueta, tudo fica mais fácil, pois posso decidir não usá-la mais e tudo está resolvido, o problema é quanto se trata de sentimentos, pois é, também enfrento esse problema da durabilidade acima da média com alguns sentimentos.
Já tive raiva de algumas pessoas, tive não, ainda tenho, a exemplo do cara que derrubou a minha caixa de picolés quando eu tinha sete anos, ainda hoje desejo que ele tivesse morrido atropelado quando atravessou a rua correndo e levando o dinheiro dos picolés que eu tinha vendido durante toda manhã, isso após ter derrubado os picolés que tinham sobrado e quebrado a caixa onde eles estavam, se não fosse o meu avô ter me dado o dinheiro para pagar o dono da sorveteria, acho que estaria chorando até agora.
Mas a raiva é um sentimento menor, e se a gente não ficar soprando as brasas que a mantêm acesa dentro de nós, dá até para esquecer por longos períodos que ela continua morando na gente. O problema é quando o sentimento é maior que nós mesmos e parece que ele não está dentro de nós, e sim nós dentro dele, isso é tão evidente que a gente para escapar dele viaja, foge de estar nos lugares onde esse sentimento pode estar escondido, espreitando para nos emboscar e mais vez nos aprisionar, só que não dá para fugir a vida inteira e fica sempre o medo de voltar.
Não há receita para lidar com isso, penso que isso nos põe a prova e mostra do que somos feitos, já vivi situações assim, mas aprendi que passar por isso uma vez não te prepara para enfrentar a próxima vez que isso vai lhe acontecer, poderia dizer que o pior a fazer é fugir, mas confesso que em muitas ocasiões não consegui encontrar alternativa, ou fugia ou enlouquecia ou, ainda, fazia a escolha errada.
As escolhas são outra coisa extremamente complicada, algumas delas te acompanham a vida inteira, e se foram erradas esse erro te atormentará até o dia da sua morte, que muitas vezes é antecipada tão grande é a culpa que você carrega.
Não quero errar nas escolhas, não quero morrer antes da hora, minha razão grita isso repetidas vezes, mas parece que o meu coração é surdo e não sabe linguagens de sinais, porque além de falar, minha razão ainda gesticula: ando de um lado para o outro, passo longos instantes de cabeça baixa, faço o carro ir mais rápido, as pessoas parecem me olhar diferente, mas nada disso faz esse idiota, que não sabe outra coisa senão bater sem parar, se tocar, e o pior é que tem momentos em que ele bate tão doído que parece que vai explodir.
Se eu pudesse, esse infame órgão ia cantar em outra freguesia, mas como já disse não quero morrer antes da hora.

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