quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sonhos

Outro dia vi uma reportagem sobre uma cidade no interior do nordeste onde a principal ocupação das pessoas era quebrar pedras, me chamou a atenção à afirmação de um jovem quando perguntado sobre os seus sonhos, ele pensou um pouco e respondeu: “Não tenho nenhum sonho não senhora, que eu me lembre nunca tive nenhum tipo de sonho não”.

Há um tempo ouvi o relato de um conhecido, doente terminal, acometido de câncer, ele disse que a pior coisa de ter certeza de que se vai morrer em breve é que você deixa de sonhar.

Um dos poemas mais tristes que já li é o de Cecilía Meireles:

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Nada é mais triste do que não ter mais sonhos ou ter a certeza de que não iremos mais realiza-los, por isso quero ter muitos filhos, para tê-los ao meu redor e quando não puder sonhar mais, poder, ainda compartilhar dos sonhos deles.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Amor de Pai

Amor de Pai, amor de mãe, vida de um filho.
Meus últimos textos tratam de coisas sérias, mas hoje quero escrever sobre algo sagrado e por definição sagrado é o que transcende as nossas experiências banais do dia-a-dia como amores descobertos, amores perdidos, frustrações pessoais, decepções amorosas, traições conjugais, deslealdade e essas coisas que preenchem o nosso universo emocional.
Tentarei colocar neste texto o que penso nesse momento da minha vida sobre os amores maternos e paternos e como esses amores afetam a todos nós, influenciando decisivamente tanto homens quanto mulheres.
Costumo dizer que Deus mora nos olhos de minha mãe, isso porque nunca enxerguei outra coisa nos olhos dela que não fosse amor e como está na Bíblia em João 4:8 – “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.” concluo que o que vejo nos olhos dela só pode ser a manifestação de Deus.
É evidente que a grande maioria de nós ama suas mães e que quase todas as mulheres desejam serem mães e quando efetivam esse desejo descobrem o maior amor que um ser humano pode sentir.
Muito já se falou sobre amor materno e a beleza da maternidade e concordo com tudo de bom que já foi dito a respeito, no entanto não quero tratar de um assunto já tão discutido e sobre o qual já parece haver um consenso, apesar dos casos de mães que abortam, abandonam seus filhos ou os usam, às vezes antes mesmo de nascer, como forma de conseguir um bom casamento, de garantir uma pensão ou, de forma mais sutil como um jeito de ser impor no âmbito familiar frente aos avós, tios e outras pessoas próximas à criança e certamente nutrem algum tipo de amor por ela. Quem não conhece um caso de alguém que engravidou para tentar manter um relacionamento.
Como já disse, quero me dedicar à ponderar sobre um assunto menos discutido, “a paternidade” e como essa condição e os sentimentos que envolve ela afetam os homens.
Meu tio, irmão mais novo de meu pai, apesar de já estar na casa dos cinquenta nunca viveu a experiência de ser pai, no entanto, adora os sobrinhos e tem por eles um amor e atenção muitas vezes maior que a dos próprios pais.
Meu tio não é casado e não me lembro de nenhuma mulher com quem tenha namorado por muito tempo, mas há uma história sobre ele que sempre me despertou certa curiosidade, nunca tive coragem para tratar do assunto com ele, mas vez por outra, quando ele não estava, falávamos do que havia acontecido: Uma prima distante que nunca havia nos visitado teve que resolver umas questões na cidade onde morávamos, ficou então hospedada por alguns dias na casa de minha avó, à época tanto essa prima como meu tio eram jovens e sob o mesmo teto foi inevitável que se envolvessem.
Depois de resolver as questões pendentes, nossa prima retornou para sua cidade e até onde eu sei nunca mais eles voltaram a se ver.
Você poderá se perguntar o que há de curioso nessa história, pois bem, não haveria nada se não fosse o fato de alguns anos depois outra prima, bem mais próxima de nós ter visitado a prima citada anteriormente, voltando de lá com uma foto e uma história que mudaria toda a vida de meu tio, a foto era de um menino de aproximadamente dois anos e a história era sobre uma moça que passou alguns dias em outra cidade e acidentalmente engravidou. Como ela mantinha um relacionamento de alguns anos com um rapaz de sua cidade resolveu sustentar que o filho era do tal namorado, mas confessou para a prima que o filho era, na verdade de meu tio.
Não sei na época já existia teste de DNA e se houvesse, com certeza era muito mais caro e bem menos conhecido, o que sei é meu tio viveu com essa angústia por toda a sua vida e a foto desse menino nunca saiu de sua carteira, informação que posso confirmar, pois eu mesmo estive com essa carteira há uns seis anos atrás quando esse menino já deveria ter mais de vinte anos e a foto continuava lá.
Aprendi muita coisa com meu tio, ele sempre foi um homem honesto e de caráter, depois dessa história nunca mais pensou em se casar, dedicou-se inteiramente ao trabalho, aos cuidados com o meu avô e minha avó até o momento de suas mortes e aos sobrinhos.
É inegável o estrago que essa situação causou ao meu tio, me lembro de episódios de depressão em sua vida e sempre notei um tom melancólico em seu semblante, até hoje ele se sente mal em tratar do assunto.
Imagino também o prejuízo imposto a esse filho que foi privado do convívio com um pai que o amaria e com certeza seria um referencial de caráter e honestidade, e mesmo que não fosse assim, não acredito que uma mãe possa negar a um filho o direito de saber quem é o seu pai, principalmente quando se sabe que esse pai tem a coisa mais importante do mundo a oferecer ao filho, amor.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Ser estudante

Nascemos programados para conhecer o mundo, ao longo da vida nossos horizontes vão se alargando, no começo tudo é natural, nossos olhos e ouvidos se assombram a cada coisa nova que descobrimos e assim de assombro em assombro vamos construindo a nós mesmos.

O que é natural no começo tem de se tornar sistemático e intencional com o passar do tempo, aprender, ainda é uma primitiva básica de nosso sistema, mas muda de forma ao longo da vida, é preciso motivação, autonomia e maturidade para galgarmos os níveis mais elevados de nossa formação.

A motivação dá conta de manter acessa a chama da intenção, o que nos põe em movimento, nos tirando da inércia e do conforto que nos vitima quando nos satisfazemos com uma condição aquém do nosso potencial.

A autonomia começa a ser construída desde que somos concebidos, no começo nos tornamos capazes de fazer nosso sangue circular, impulsionado pelas batidas de um coraçãozinho que começa a bater ainda quando estamos no útero materno, depois, ao nascermos passamos a respirar sozinhos, aprendemos a caminhar e a falar. Esse processo não termina nunca, pois sempre há algo mais a aprender, e quanto mais aprendemos, mais independentes nos tornamos.

É verdade que algumas pessoas aprendem mais do que outras num mesmo período de tempo, isso deve ao fato de serem capazes de fazer boas escolhas, essas pessoas conseguem discernir entre o que é importante e duradouro e o que é frívolo e fugaz, suas escolhas são conscientes e ao longo da vida constroem um sólido patrimônio pessoal, seja material ou subjetivo. A essas capacidades chamamos maturidade, que ao contrário do que muitos pensam, não tem relação somente com o tempo que vivemos, mas também depende muito da intensidade com a qual vivemos.

Motivação, autonomia e maturidade, isso nos define como estudantes, ou como prefiro dizer: “aprendizes” e é bom analisarmos como estamos cuidando dessas dimensões pois elas definirão toda a nossa vida, já que só deixamos de aprender quando ela termina.

Prof. Rogério Reis

Coordenador de Extensão e docente da

AGES

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Amor e escolhas

Quando escolhemos alguém para a nossa vida, não é a escolha que fazemos que realmente importa e sim as renúncias que envolvem essa escolha.

A pessoa virtuosa é aquela que mesmo desejando muito algo que lhe traga prazer ou outro benefício, ainda assim, é capaz de abrir mão desse desejo em função de não o achar correto ou não o achar importante o suficiente em relação a outros valores, pessoas ou relações que seriam afetados caso o desejo se realizasse. Não há virtude sem sacrifício, assim como não amor sem renúncia. Por isso o tamanho do nosso amor se mede, não com a quantidade de beijos ou de presentes que somos capazes de oferecer ao outro e sim com o que somos capazes de abrir mão em nome desse amor.

Costumo dizer que “nada que é fácil vale à pena” e que “as coisas tem o valor dos sacrifícios que empreendemos para conquistá-las”, se não estamos dispostos sequer a tolerar as fragilidades do outro em nome de uma relação é porque o que sentimos não tem muito valor e acredito que coisas sem valor não devem ser guardadas pois elas ocupam o lugar das coisas que realmente importam na nossa vida.

Pense nisso: às vezes uma pessoa está pronta para sacrificar o que tem de mais valioso em nome daquilo que sente por você, por isso é natural que ela tenha tantas dúvidas quanto ao que você sente, até porque não temos o hábito de sermos sinceros e verdadeiros com os outros desde o início.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A receita da felicidade

Há coisas sem as quais não sobrevivemos nem sequer por algum tempo: como o ar, a água e a alimentação, outras nos matam aos poucos: como a falta de afeto e reconhecimento, mas também é verdade que somos atingidos e nos debilitamos pela ausência de coisas cuja impressão de sua necessidade não resistiria a alguns instantes de ponderação, estranhamente é a falta do desnecessário que causa a maioria de nossas angústias, nos impondo um sentimento quase perene de vazio e descontentamento.

Vivemos a era das ilusões, atrelamos o nosso sentimento de realização ao alcance de metas que quase nunca tem a ver com o que realmente é significativo para a nossa existência. É comum esquecermos de olhar para nós mesmos, seduzidos pelo mundo ao nosso redor, passamos então a nos conhecer cada vez menos, o que nos leva a ser incapazes de ter consciência permanente das coisas que realmente fazem diferença em nossa vida.

O filósofo Epicurio na Grécia antiga constata que para alcançarmos a realização e a felicidade é preciso que sejamos independentes, que busquemos estar entre as pessoas que nos amam e as quais amamos, que façamos constantemente análises de nossa vida e que nos alimentemos bem, eu acrescentaria às constatações epicuristas a necessidade de exercícios físicos regulares.

Nosso ritmo de vida marcado pela complexidade das relações efetivadas nos cenários do nosso cotidiano nos afasta da natureza simples da felicidade, que quase sempre já está contida nas coisas que possuímos, metas que conquistamos e depende muito mais da descoberta da importância do que já temos do que da aquisição de outras coisas ou do atingimento de novas metas.

Dedicamos grande parte de nosso tempo à busca de objetivos que pouco ou nada contribuem para que sejamos verdadeiramente felizes, muitos inclusive nem acreditam na felicidade e com isso perseguem os momentos de satisfação passageiros proporcionados pela aquisição de algo ou por elogios vazios e desmerecidos.

Só possuímos verdadeiramente as coisas que amamos, o resto se insere fora de nossos territórios, mesmo quando fazem parte de nossas aquisições não participarão do nosso mundo interior o qual em uma análise mais profunda fornece as razões determinantes da forma como reagiremos ao mundo que nos cerca.

É preciso conhecer o que se passa dentro de nós, costumo repetir uma afirmação, penso que tirada de um velho ditado indígena que nos sugere que o homem é uma casa de muitos cômodos e que quando deixamos de visitar um deles, esse se torna esquecido e empoeirado e a porta que leva até lá vai ficando emperrada e difícil de abrir.

Devemos dedicar um tempo maior às atividades que nos aproximem das pessoas, procurar entendê-las é a chave para entendermos a nós mesmos, o que amplia as nossas possibilidades de acolher e sermos acolhidos. A intolerância e o desrespeito não ferem somente aos que são vítimas diretas das atitudes que as geram, pois quando colocadas em prática negam as semelhanças que nos aproximam, acentuando as diferenças que têm como conseqüência final a exclusão dos sujeitos, exclusão essa que não possui uma única direção, pois ao excluirmos uma pessoa do nosso convívio também nos excluímos do convívio dela o que nos leva ao isolamento e a infelicidade decorrente dele.

É crescente o número de pessoas que decidem viver só, evitando relacionamentos duradouros em nome da manutenção de uma pseodoindependência que não os liberta, ao contrário, os acorrenta à uma ditadura que impõe um modo de vida que privilegia condutas contrárias a natureza humana de socialização e necessidade de pertencer ao universo do outro.

Enfim nos distanciamos da felicidade não pela distância existente entre ela e nós mas, por desconhecer os caminhos que nos aproximam dela.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Coisas que duram demais, ou coisas duras demais
Há pessoas extremamente cuidadosas com as coisas que possuem e por isso elas duram quase uma eternidade, no meu caso é diferente, não tenho muito cuidado com quase nada, no entanto há coisas na minha vida que insistem em durar indefinidamente, é o caso dessa jaqueta de couro que comprei há quase vinte anos, já me cansei de usá-la e ela insiste em não se estragar.
Quando a situação é com coisas como uma jaqueta, tudo fica mais fácil, pois posso decidir não usá-la mais e tudo está resolvido, o problema é quanto se trata de sentimentos, pois é, também enfrento esse problema da durabilidade acima da média com alguns sentimentos.
Já tive raiva de algumas pessoas, tive não, ainda tenho, a exemplo do cara que derrubou a minha caixa de picolés quando eu tinha sete anos, ainda hoje desejo que ele tivesse morrido atropelado quando atravessou a rua correndo e levando o dinheiro dos picolés que eu tinha vendido durante toda manhã, isso após ter derrubado os picolés que tinham sobrado e quebrado a caixa onde eles estavam, se não fosse o meu avô ter me dado o dinheiro para pagar o dono da sorveteria, acho que estaria chorando até agora.
Mas a raiva é um sentimento menor, e se a gente não ficar soprando as brasas que a mantêm acesa dentro de nós, dá até para esquecer por longos períodos que ela continua morando na gente. O problema é quando o sentimento é maior que nós mesmos e parece que ele não está dentro de nós, e sim nós dentro dele, isso é tão evidente que a gente para escapar dele viaja, foge de estar nos lugares onde esse sentimento pode estar escondido, espreitando para nos emboscar e mais vez nos aprisionar, só que não dá para fugir a vida inteira e fica sempre o medo de voltar.
Não há receita para lidar com isso, penso que isso nos põe a prova e mostra do que somos feitos, já vivi situações assim, mas aprendi que passar por isso uma vez não te prepara para enfrentar a próxima vez que isso vai lhe acontecer, poderia dizer que o pior a fazer é fugir, mas confesso que em muitas ocasiões não consegui encontrar alternativa, ou fugia ou enlouquecia ou, ainda, fazia a escolha errada.
As escolhas são outra coisa extremamente complicada, algumas delas te acompanham a vida inteira, e se foram erradas esse erro te atormentará até o dia da sua morte, que muitas vezes é antecipada tão grande é a culpa que você carrega.
Não quero errar nas escolhas, não quero morrer antes da hora, minha razão grita isso repetidas vezes, mas parece que o meu coração é surdo e não sabe linguagens de sinais, porque além de falar, minha razão ainda gesticula: ando de um lado para o outro, passo longos instantes de cabeça baixa, faço o carro ir mais rápido, as pessoas parecem me olhar diferente, mas nada disso faz esse idiota, que não sabe outra coisa senão bater sem parar, se tocar, e o pior é que tem momentos em que ele bate tão doído que parece que vai explodir.
Se eu pudesse, esse infame órgão ia cantar em outra freguesia, mas como já disse não quero morrer antes da hora.