terça-feira, 26 de julho de 2011

Pessoas que aprendem e pessoas que dependem
Todos nós, homens e mulheres, nascemos com uma inclinação natural para adquirir conhecimento. Passamos a conhecer o mundo através dos nossos sentidos. A interação que se estabelece entre sujeito e mundo desencadeia uma dinâmica que nos modifica cognitiva, corporal e afetivamente, além de mudar a forma como percebemos e nos movemos no espaço.
É preciso ressaltar, no entanto, que essa inclinação natural à aquisição de conhecimento não é suficiente para produzir a apreensão e compreensão do mundo, bem como, sozinha não promove a evolução necessária para que sejamos capazes de nos inserirmos de forma sustentável no universo que nos cerca.
A sustentabilidade tratada aqui se refere à gestão eficiente e eficaz dos seus recursos cognitivos, afetivos e psicomotores de forma que esses sejam sempre suficientes e adequados para nos habilitar a lidar com as demandas, oportunidades e percalços que a vida impõe a todos nós.
Muitos acreditam que os recursos que se encontram no nosso entorno são suficientes e até mesmo mais importantes do que o que nos é intrínseco como o equilíbrio emocional, o bem estar físico e a capacidade de interpretação deste mundo grafocêntrico onde uma rede tecida com alguns fios de saber, raros nós de entendimento e infindáveis vazios de dúvida seria a metáfora mais adequada para explica-lo.
Tecer a rede é a providência mais efetiva que podemos empreender para assegurarmos a sustentabilidade do nosso ser.
Na tessitura dessa rede a trama só será garantida se os fios entrelaçarem-se, vindo de pontos diferentes. Cada uma das dimensões que nos constitui deve ser pensada e trabalhada para que a malha que nos sustenta nesse mundo seja firme confiável.
O tear deve estar em constante movimento, os fios da cognição devem se entrelaçar com os fios da afetividade e estes se unirão por liames aos fios da psicomotricidade, dessa forma cada um dos fios dará sustentação ao outro garantindo-nos condições de interagirmos com a vida sem fraquejarmos diante dela.
Por o tear em movimento não é algo unicamente natural, talvez as primeiras compreensões do mundo o sejam, mas as aprendizagens mais importantes da nossa vida, após desenvolvermos certa autonomia diante dos desafios que nos são impostos, são sempre fruto de muito esforço, renúncia e dedicação.
Todavia é preciso estar atento, pois não são raras as situações nas quais somos tentados pelas facilidades que a vida coloca diante de nós. É muito mais fácil deixar que façam por nós, do que fazermos nós mesmos, esquecemos, porém que por tudo que nos é oferecido pagamos um preço.
Não deixe que façam por você aquilo que pode e deve fazer por si mesmo, pois o mais importante não é o resultado das ações, mas sim o ato, em si, de efetivá-las. Se isso não fosse verdade personalidades como Amy Winehouse, Michael Jackson e outros não teriam sucumbido à vida partindo de forma prematura, vitimadas pelas próprias fragilidades.
Também não faça pelas pessoas a quem você ama o que elas podem e devem fazer por si mesmas, pois além de se ocupar desnecessariamente, nega-lhes a oportunidade de crescer com os esforços que empreenderiam, nega-lhes também a realização e a autoconfiança que só são alcançadas quando passam a crer que são capazes de resolver por si sós os problemas que a vida põe diante de todos nós ao longo da nossa existência.
Construirmos a nós mesmos considerando cada uma das conexões que precisamos estabelecer parece algo impossível; provavelmente seria se estivéssemos sós, no entanto estamos cercados de pessoas dispostas a ajudar nesse processo, pois além de nos autoconstruirmos nós também nos construímos mutuamente através das interações que estabelecemos uns com os outros.
É preciso, no entanto prudência na efetivação da nossa relação com o outro, pois é muito forte o apelo pelo mais fácil e agradável, elogios, por exemplo, podem ser fundamentais para a manutenção da autoestima, mas devem sempre ser portadores de objetivos pedagógicos e ter como base a verdade e o merecimento de quem os recebe, caso contrário, corre-se o risco de mascararem a realidade fazendo com que o indivíduo que os recebe acredite que não há mais em que melhorar, com isso, incentiva-se a estagnação que nos acorrenta a incompletude do desenvolvimento necessário para que sejamos capazes de exercer com competência nosso papel na sociedade da qual fazemos parte.
Adotar a avaliação como forma de identificar o que precisa ser melhorado, não como uma agressão quando a nota é baixa ou como uma vitória definitiva quando a nota é elevada, para isso precisamos que o processo avaliativo deve produza resultados que se aproximem ao máximo da realidade, visto que devem refletir a totalidade do indivíduo e não só uma porção específica que entendemos ser mais valiosa, pois ao contrário do que muitos possam pensar, apropriar-se de todo o conhecimento de uma área específica não é condição suficiente para que nos tornemos eficazes nas ações que empreendemos, já que em cada pequena ação estão envolvidos diversos aspectos que se tangenciam, permeiam e subsidiam o que fazemos como um todo.
Quando a avaliação mostra que somos muito bons em uma determinada área, ela nos coloca diante da possibilidade de assumirmos esse resultado pontual como sendo geral, o que pode ocultar fragilidades que se fossem detectadas poderiam ser trabalhadas para contribuir para o nosso desenvolvimento pleno.
É preciso repudiar os artifícios pelos quais nos isentamos das tarefas que deveríamos cumprir. Por de trás das ofertas generosas de coisas prontas que, caso tivemos que fazer nós mesmos, custariam horas de trabalho, pode estar o desejo de ver-nos estagnar, inertes diante da vida e desta forma ver também a fragilização de um possível concorrente.
Tudo que deixamos de aprender, nos torna mais dependentes e a dependência é um tipo de deficiência imposta por nós mesmos.
Há um tempo propício para tudo em nossa existência, quando perdemos esse tempo corremos o risco de não mais termos a chance de recuperá-lo, aliás o tempo é um bem não reciclável, quando se extingue não há o que fazer senão lamentar. É preciso aproveitar cada momento propício à aprendizagem, devemos lembrar o quanto nos custa cada hora que reservamos aos momentos que deveriam nos proporcionar essa aprendizagem.
Estar em uma sala de aula como alunos, implica em abdicar de tudo o que poderíamos estar fazendo se não estivéssemos ali, é de se estranhar então que alguém possa valorizar tão pouco esse espaço/tempo preenchendo-o com atividades insípidas ou com o desânimo frente aos objetivos propostos, seria mais nobre contestar todos estes objetivos e buscar revolucionar o ambiente de ensino aprendizagem, no entanto, é inaceitável a inércia que alguns manifestam diante de tudo.
Podemos assistir a vida passar diante de nós como estátuas, imóveis e imutáveis à espera de alguém que resolva os nossos problemas, ou podemos encarar a vida como uma seqüência de desafios a serem vencidos, e podem estar certos de que não há nada que nos faça tão bem quanto superar desafios.
Com certeza não seremos os mesmos amanhã, mas se seremos melhores ou não, só depende de nós, ninguém aprende no lugar de outrem, toda aprendizagem é uma autoaprendizagem, por isso cabe, a cada um escolher o que quer para si: aprender ou depender.
Tudo que deixamos que façam por nós nos torna um pouco dependente de quem o faz, se deixarmos que façam tudo por nós nos tornaremos totalmente dependentes dos outros.
O futuro não é uma acaso, nem o destino está traçado, tudo o que nos acontece é em grande parte resultado do fizemos ou do que deixamos de fazer, nada de importante pode ser conquistado sem esforço, aliás, as coisas que possuímos têm o valor do esforço que dedicamos para obtê-las e as mais valiosas com certeza nos custaram muito, mesmo que as outras pessoas não as valorizem, sabemos que nos são caras, esse valor não tem relação com o valor financeiro, é mais parecido com a euforia que sentimos ao sermos aprovados em uma seleção concorrida ou quando conquistamos o nosso 1o emprego.
É comum nos queixarmos de nossa própria sorte enquanto ressaltamos a sorte das pessoas bem sucedidas que nos cercam, ignoramos, no entanto, que a sorte nada mais é que o encontro do indivíduo preparado com a oportunidade, de nada adiantará as oportunidades que recebermos se não estivermos preparados para aproveitá-las.
Prof. Rogério Reis

6 comentários:

  1. MEU PARABENS O TEXTO É MARAVILHOSO COMO SEMPRE O SENHOR A CADA DIA SUPREENDE CADA VEZ MAS A TODOS MAS NÃO FICO SURPRESA POIS O SENHOR SEMPRE TEVE ESSE BRILHO.PARABENS MESMO. ANDREA MENEZES

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  2. ESTE TEXTO RETRATA BEM UMA DAS PROBLEMÁTICAS MAIS EVIDENTES NO COTIDIANO MODERNO: A NECESSIDADE DE NOS TORNARMOS AUTOSUFICIENTES NUM MODELO DE SOCIEDADE QUE EXIGE CADA VEZ MAIS PREPARO DAS PESSOAIS TORNANDO-AS DEPENDENTES POR MAIS TEMPO DOUTROS E, PARADOXALMENTE, OBJETIVANDO A LIBERTAÇÃO ATRAVÉS DE UMA INTERAÇÃO SIGNIFICATIVA COM A REALIDADE.
    PARABÉNS PELA PRODUÇÃO PROFESSOR.

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  4. "O homem (ou Dasein) é o ser em particular que tem de estar
    consciente de si mesmo, ser responsável por si mesmo, se pretende
    tornar-se ele mesmo. É também aquele ser em particular que sabe
    que em algum momento futuro não mais será; é o ser que está
    sempre numa relação dialética com o não-ser, a morte. E, além de
    saber que não mais será em algum momento, pode também, por livre
    escolha, castigar o próprio ser". (Rollo May).
    O dificil são as pessoas se conscientizarem de tal fato, já que essa "teia" é bem entrelaçada levando em conta a individualidade de cada ser.
    Parabéns Professor. Excelente texto.
    Arthur Galeão.

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  5. O ser humano nunca deve aceitar qualquer idéia vinda de fora antes de avaliá-la com a sua sabedoria, pois, todos nós somos capazes de alcançar um nível mas profundo do conhecimento, aprendendo a aprender, tomando nossas próprias decisões... Ótimo texto, parabéns!

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