quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sonhos

Outro dia vi uma reportagem sobre uma cidade no interior do nordeste onde a principal ocupação das pessoas era quebrar pedras, me chamou a atenção à afirmação de um jovem quando perguntado sobre os seus sonhos, ele pensou um pouco e respondeu: “Não tenho nenhum sonho não senhora, que eu me lembre nunca tive nenhum tipo de sonho não”.

Há um tempo ouvi o relato de um conhecido, doente terminal, acometido de câncer, ele disse que a pior coisa de ter certeza de que se vai morrer em breve é que você deixa de sonhar.

Um dos poemas mais tristes que já li é o de Cecilía Meireles:

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Nada é mais triste do que não ter mais sonhos ou ter a certeza de que não iremos mais realiza-los, por isso quero ter muitos filhos, para tê-los ao meu redor e quando não puder sonhar mais, poder, ainda compartilhar dos sonhos deles.