sábado, 30 de julho de 2011

Pessoal o Link para a história que li na aula de sexta-feira: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2008/01/07/a-menina-e-o-passaro-encantado-ruben-alves/

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Eu e o Outro
Um dos primeiros desafios que me impus na adolescência foi o de entender a mim mesmo e as pessoas com quem convivia.
Lembro-me de me considerar cheio de defeitos, o que me levava a um sonho recorrente: ter a oportunidade de começar tudo novamente num lugar onde ninguém me conhecesse.
Não gostava da forma como agia, mas estranhamente continuava a fazer as mesmas coisas que me tornavam aquela pessoa a quem eu queria ver renascer como alguém totalmente diferente.
É verdade que ao longo dos anos recomecei algumas vezes, mudei muito e tornei-me muito diferente do que era, no entanto ainda continuo muito longe de conseguir me entender e entender os outros.
Ando desconfiado de que o problema está na perspectiva pela qual tentamos nos conhecer. O fato de nossos olhos estarem voltados para fora e ser a visão o sentido no qual mais confiamos talvez possa explicar porque sempre nos analisamos com base no que está ocorrendo em nosso entorno, quase sempre, estabelecemos uma relação de causa e efeito entre o que ocorre próximo de nós e o que estamos sentindo.
Somos decisivamente afetados pela realidade que nos cerca e de forma mais contundente pelas pessoas que nos cercam, se pudermos tomar essa afirmação como verdadeira, também poderemos considerar verdadeiro que nós afetamos a todos que estão à nossa volta, ou de alguma forma interagindo conosco, e quanto mais próximos estamos de alguém maior é o efeito que causamos.
Quase nunca nos preocupamos com isso a ponto de orientarmos a nossa conduta de forma a minimizar ou evitar os desconfortos inerentes ao convívio entre as pessoas.
Quantos sofrimentos nós causamos aos outros sem sequer perceber que os tenhamos causado, é comum também nos impormos sofrimentos desnecessários, advindos de percepções equivocadas e da insistência em alimentar sentimentos cuja origem desconhecemos e cujo destino só nos conduz a mais sofrimento.
Mas nem tudo é esse mar de angústia, a interação com outras pessoas também pode nos dar prazer e alegria, o problema é que não nos contentamos em viver e aproveitar descansadamente as experiências que a vida nos proporciona, quase sempre dedicamos uma boa parcela do nosso tempo à tentativa de entender o que se passa nos meandros dessas vivências, principalmente no que se refere aos motivos que embalam o outro.
As relações interpessoais desencadeiam uma dinâmica na qual todos procuram, de uma forma, ou de outra usar as pessoas com quem convivem, e como ninguém gosta de sentir-se usado, se estabelece um conflito, no interior de cada um, que raramente explicitamos. Vivemos as nossas angústias em silêncio, o que as tornam mais difíceis de serem suportadas.
Alguém poderia dizer que a solução é simples, basta que se estabeleça o diálogo como ferramenta para minimizar essas angústias, no entanto, efetivar o diálogo não é algo tão simples, a maioria de nós não escuta o que outro diz, na verdade ficamos em silêncio, não para ouvir o outro, mas para aguardar a nossa vez de falar, falamos como se fossemos a única voz que valesse à pena ser ouvida, com isso cultivamos um profundo desconhecimento sobre o outro e suas razões.
Algumas tentativas de entender as pessoas me levaram por vezes a considerações, no mínimo interessantes, uma delas é sobre como usamos a expressão “nossas razões” para nos referirmos aos motivos que nos levam a determinadas atitudes. Não conheço ninguém que se paute exclusivamente pela razão, pelo contrário, o que nos põe em movimento são as emoções ou sentimentos, quase sempre os negativos como o desejo de vingança, o ciúme, a inveja, a intolerância, a desconfiança, o preconceito e o ódio, entre outros. Não quero afirmar que não sintamos coisas boas em relação às outras pessoas, no entanto é mais raro que esses bons sentimentos nos motivem a agir para concretizar, ou até mesmo fazer com que a outra pessoa saiba o que sentimos.
Não falar sobre o que sentimos é por vezes um mecanismo de defesa, o temor de que usem os nossos sentimentos contra nós é algo real e justificado. Eu me lembro de uma amiga que me contou que fazia gato e sapato de um rapaz que confessou estar apaixonado por ela, sempre deixava escapar o que queria ganhar de presente e o rapaz nem esperava uma data especial para lhe comprar o mimo, ele também digitava todos os seus trabalhos de faculdade e ficava todo entusiasmado quando podia fazer algo por sua paixão. Não preciso dizer o quanto esse jovem sofreu.
Penso que o que disse aqui não é novidade para ninguém, fica, no entanto, uma pergunta a ser respondida: como lidar com isso tudo de forma que não soframos e nem façamos os outros sofrerem demasiadamente? Apesar de acreditar que a resposta a esta questão deva ser construída de forma singular e individual posso dizer que tenho conseguido algum progresso empregando uma parcela razoável do meu tempo a análise de mim mesmo, tentando entender como tenho sido afetado pelas pessoas e como eu mesmo tenho afetado elas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Pessoas que aprendem e pessoas que dependem
Todos nós, homens e mulheres, nascemos com uma inclinação natural para adquirir conhecimento. Passamos a conhecer o mundo através dos nossos sentidos. A interação que se estabelece entre sujeito e mundo desencadeia uma dinâmica que nos modifica cognitiva, corporal e afetivamente, além de mudar a forma como percebemos e nos movemos no espaço.
É preciso ressaltar, no entanto, que essa inclinação natural à aquisição de conhecimento não é suficiente para produzir a apreensão e compreensão do mundo, bem como, sozinha não promove a evolução necessária para que sejamos capazes de nos inserirmos de forma sustentável no universo que nos cerca.
A sustentabilidade tratada aqui se refere à gestão eficiente e eficaz dos seus recursos cognitivos, afetivos e psicomotores de forma que esses sejam sempre suficientes e adequados para nos habilitar a lidar com as demandas, oportunidades e percalços que a vida impõe a todos nós.
Muitos acreditam que os recursos que se encontram no nosso entorno são suficientes e até mesmo mais importantes do que o que nos é intrínseco como o equilíbrio emocional, o bem estar físico e a capacidade de interpretação deste mundo grafocêntrico onde uma rede tecida com alguns fios de saber, raros nós de entendimento e infindáveis vazios de dúvida seria a metáfora mais adequada para explica-lo.
Tecer a rede é a providência mais efetiva que podemos empreender para assegurarmos a sustentabilidade do nosso ser.
Na tessitura dessa rede a trama só será garantida se os fios entrelaçarem-se, vindo de pontos diferentes. Cada uma das dimensões que nos constitui deve ser pensada e trabalhada para que a malha que nos sustenta nesse mundo seja firme confiável.
O tear deve estar em constante movimento, os fios da cognição devem se entrelaçar com os fios da afetividade e estes se unirão por liames aos fios da psicomotricidade, dessa forma cada um dos fios dará sustentação ao outro garantindo-nos condições de interagirmos com a vida sem fraquejarmos diante dela.
Por o tear em movimento não é algo unicamente natural, talvez as primeiras compreensões do mundo o sejam, mas as aprendizagens mais importantes da nossa vida, após desenvolvermos certa autonomia diante dos desafios que nos são impostos, são sempre fruto de muito esforço, renúncia e dedicação.
Todavia é preciso estar atento, pois não são raras as situações nas quais somos tentados pelas facilidades que a vida coloca diante de nós. É muito mais fácil deixar que façam por nós, do que fazermos nós mesmos, esquecemos, porém que por tudo que nos é oferecido pagamos um preço.
Não deixe que façam por você aquilo que pode e deve fazer por si mesmo, pois o mais importante não é o resultado das ações, mas sim o ato, em si, de efetivá-las. Se isso não fosse verdade personalidades como Amy Winehouse, Michael Jackson e outros não teriam sucumbido à vida partindo de forma prematura, vitimadas pelas próprias fragilidades.
Também não faça pelas pessoas a quem você ama o que elas podem e devem fazer por si mesmas, pois além de se ocupar desnecessariamente, nega-lhes a oportunidade de crescer com os esforços que empreenderiam, nega-lhes também a realização e a autoconfiança que só são alcançadas quando passam a crer que são capazes de resolver por si sós os problemas que a vida põe diante de todos nós ao longo da nossa existência.
Construirmos a nós mesmos considerando cada uma das conexões que precisamos estabelecer parece algo impossível; provavelmente seria se estivéssemos sós, no entanto estamos cercados de pessoas dispostas a ajudar nesse processo, pois além de nos autoconstruirmos nós também nos construímos mutuamente através das interações que estabelecemos uns com os outros.
É preciso, no entanto prudência na efetivação da nossa relação com o outro, pois é muito forte o apelo pelo mais fácil e agradável, elogios, por exemplo, podem ser fundamentais para a manutenção da autoestima, mas devem sempre ser portadores de objetivos pedagógicos e ter como base a verdade e o merecimento de quem os recebe, caso contrário, corre-se o risco de mascararem a realidade fazendo com que o indivíduo que os recebe acredite que não há mais em que melhorar, com isso, incentiva-se a estagnação que nos acorrenta a incompletude do desenvolvimento necessário para que sejamos capazes de exercer com competência nosso papel na sociedade da qual fazemos parte.
Adotar a avaliação como forma de identificar o que precisa ser melhorado, não como uma agressão quando a nota é baixa ou como uma vitória definitiva quando a nota é elevada, para isso precisamos que o processo avaliativo deve produza resultados que se aproximem ao máximo da realidade, visto que devem refletir a totalidade do indivíduo e não só uma porção específica que entendemos ser mais valiosa, pois ao contrário do que muitos possam pensar, apropriar-se de todo o conhecimento de uma área específica não é condição suficiente para que nos tornemos eficazes nas ações que empreendemos, já que em cada pequena ação estão envolvidos diversos aspectos que se tangenciam, permeiam e subsidiam o que fazemos como um todo.
Quando a avaliação mostra que somos muito bons em uma determinada área, ela nos coloca diante da possibilidade de assumirmos esse resultado pontual como sendo geral, o que pode ocultar fragilidades que se fossem detectadas poderiam ser trabalhadas para contribuir para o nosso desenvolvimento pleno.
É preciso repudiar os artifícios pelos quais nos isentamos das tarefas que deveríamos cumprir. Por de trás das ofertas generosas de coisas prontas que, caso tivemos que fazer nós mesmos, custariam horas de trabalho, pode estar o desejo de ver-nos estagnar, inertes diante da vida e desta forma ver também a fragilização de um possível concorrente.
Tudo que deixamos de aprender, nos torna mais dependentes e a dependência é um tipo de deficiência imposta por nós mesmos.
Há um tempo propício para tudo em nossa existência, quando perdemos esse tempo corremos o risco de não mais termos a chance de recuperá-lo, aliás o tempo é um bem não reciclável, quando se extingue não há o que fazer senão lamentar. É preciso aproveitar cada momento propício à aprendizagem, devemos lembrar o quanto nos custa cada hora que reservamos aos momentos que deveriam nos proporcionar essa aprendizagem.
Estar em uma sala de aula como alunos, implica em abdicar de tudo o que poderíamos estar fazendo se não estivéssemos ali, é de se estranhar então que alguém possa valorizar tão pouco esse espaço/tempo preenchendo-o com atividades insípidas ou com o desânimo frente aos objetivos propostos, seria mais nobre contestar todos estes objetivos e buscar revolucionar o ambiente de ensino aprendizagem, no entanto, é inaceitável a inércia que alguns manifestam diante de tudo.
Podemos assistir a vida passar diante de nós como estátuas, imóveis e imutáveis à espera de alguém que resolva os nossos problemas, ou podemos encarar a vida como uma seqüência de desafios a serem vencidos, e podem estar certos de que não há nada que nos faça tão bem quanto superar desafios.
Com certeza não seremos os mesmos amanhã, mas se seremos melhores ou não, só depende de nós, ninguém aprende no lugar de outrem, toda aprendizagem é uma autoaprendizagem, por isso cabe, a cada um escolher o que quer para si: aprender ou depender.
Tudo que deixamos que façam por nós nos torna um pouco dependente de quem o faz, se deixarmos que façam tudo por nós nos tornaremos totalmente dependentes dos outros.
O futuro não é uma acaso, nem o destino está traçado, tudo o que nos acontece é em grande parte resultado do fizemos ou do que deixamos de fazer, nada de importante pode ser conquistado sem esforço, aliás, as coisas que possuímos têm o valor do esforço que dedicamos para obtê-las e as mais valiosas com certeza nos custaram muito, mesmo que as outras pessoas não as valorizem, sabemos que nos são caras, esse valor não tem relação com o valor financeiro, é mais parecido com a euforia que sentimos ao sermos aprovados em uma seleção concorrida ou quando conquistamos o nosso 1o emprego.
É comum nos queixarmos de nossa própria sorte enquanto ressaltamos a sorte das pessoas bem sucedidas que nos cercam, ignoramos, no entanto, que a sorte nada mais é que o encontro do indivíduo preparado com a oportunidade, de nada adiantará as oportunidades que recebermos se não estivermos preparados para aproveitá-las.
Prof. Rogério Reis